terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma ida à praia

[Uma praia na Costa da Caparica, no dia 27 de Junho de 2009 - sete e meia da tarde]

No sábado fui à praia. Não fui no sentido de lá ter ficado muito tempo, ou de sequer ter estendido a toalha. Eram sete e meia da tarde quando por lá passei. Desci as escadas de madeira, aqueles 10 degraus (se tanto), e tirei as sandálias, levando-as na mão, enquanto caminhava pela areia. Sentir os pés enterrarem-se naquela superfície móvel é uma sensação muito boa, não só para mim como provavelmente para a maioria das pessoas. E, embora a areia já tivesse arrefecido (estava um pouco nublado, e além disso o sol estava já em recta final para o horizonte), a minha alma aqueceu, porque estava na praia, e naquele momento era isso que mais desejava.

A água não estava muito fria, mas também só molhei os pés. No bolso levava a minha máquina fotográfica. Tirei-a de lá, e liguei-a, expondo-a assim à areia que voava pelo ar, e arriscando-me a estragar os próprios mecanismos do aparelho. Tirei uma fotografia ao céu e ao mar, depois tirei uma à areia e ao mar, e depois virei-me para trás, e captei o momento representado na fotografia acima. Os meus passos estão no meio desses todos, se quiserem divertir-se a procurá-los.

Apetecia-me ter ficado ali até a noite ter ocupado por completo o firmamento. Apetecia-me ter captado na fotografia o som das ondas, e do mar, e das (poucas) pessoas que ali se encontravam. A paz daquele lugar, a sensação de estar em casa (muito estranho, eu nem sequer sou muito adepto de praia) preencheram-me.

Senti-me assim... completo. Há coisas que não se conseguem explicar.

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para quem acha a letra do blog muito pequena, porque já houve pessoas que se queixaram, podem aumentá-la fazendo o seguinte: deixam a tecla "Ctrl" (Control) em baixo, e rodam a rodinha do rato para a frente ou para trás, para regularem o tamanho.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sara

[Junho de 2009, à saída da escola, captei este momento; é um extracto de uma das camisolas da Sara]

Celebra hoje o seu décimo sexto aniversário a melhor coisa que este décimo ano de escolaridade me trouxe. Uma rapariga chamada Sara.

Segunda-Feira, 15 de Setembro de 2008.

8h 3om. Entro na sala de aula de inglês, a primeira aula do ano lectivo. Sento-me na terceira fila a contar da janela, e na quarta mesa a contar do quadro. O resto dos alunos também vão entrando. Começo a tentar fixar mentalmente as caras de cada, tentando decifrar através das suas caras quem são e como são. Tentativa infrutífera, para muitos. Na mesa à minha frente um rapaz e uma rapariga exclamam contentes "Ficámos na mesma turma!" e abraçam-se a rir, numa cena que eu comparei mentalmente à Sharpay e ao Ryan do filme High School Musical. Depois sentam-se, e passam a aula inteira a falar um com outro - não que tenha sido verdadeiramente uma aula normal. As apresentações. Quando chega a vez dessa rapariga na mesa da frente, ela diz que tem quinze anos e que gostava de ser bailarina profissional.

10h 05m. Caminho até ao pavilhão de educação física, após um intervalo que passei sozinho, sem conhecer praticamente ninguém. Coloco-me à porta. Oiço alguém dizer atrás de mim "Como é que ele se chama?" "Acho que é Tiago" "Tiago!". E eu olho, e vejo a rapariga e o rapaz que tinham estado na mesa da frente sentados num banco, a acenarem-me. Já têm nomes, para mim: ela é a Sara. Caminho até eles. Não me lembro do que digo, mas falo muto pouco. Oiço-os, de vez em quando faço um ou outro comentário, e eles percebem que vai funcionar mais ou menos assim.

13h 30 m. Estou encostado à porta da sala de Matemática Aplicada às Ciências Sociais. Faltam 5 minutos para entrarmos mas eu ainda estou sozinho ali. De repente chega a tal rapariga, a... a Sara, sim, é esse o nome dela. Diz-me "Olá", e "Eu já estive com este professor nos últimos três anos, e ele atrasa-se sempre". Não me lembro do que respondo.

13h 40m. Sento-me sozinho na aula de Matemática Aplicada às Ciências Sociais. A Sara também, numa mesa ao lado. Não me importo de estar sozinho, em todas as aulas tem acontecido o mesmo.

* * *

Terça-Feira, 16 de Setembro de 2008.

10h 10m. "Anda connosco, Tiago", diz-me ela, quando saímos da primeira aula do dia. Pedem-me para passar o intervalo com eles. Registo isso na minha cabeça - vai ser assim. Aos poucos começo a descobri-los, aos poucos eles começam a descobrir-me.

17h 10m. Aula de Matemática Aplicada às Ciências Sociais. A Sara não levou o livro, pede para se sentar ao meu lado. Digo "Claro", e afasto a cadeira para ela se sentar. Para mim, começou aí.

* * *

Só para que conste, na aula seguinte ela levou o livro, mas foi sentar-se novamente comigo. Eu registei na minha cabeça - vai ser assim. E foi. Sentou-se ao meu lado nas aulas de Matemática, e passou a sentar-se a partir de certo dia nas de Geografia. Passei setenta por cento dos meus intervalos com ela. Aprendi a conhecê-la bem. Deixou de ter incógnitas, a ponto de prever o que ia fazer ou dizer numa determinada situação. Como disse, foi a melhor coisa que este décimo ano de escolaridade me podia ter trazido - obrigado pela tua amizade, Sara. E parabéns.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A Última Passagem

[Ruínas de Conímbriga, Junho de 2009]

Há muitos séculos atrás, passou por baixo desta porta um romano que aqui vivia, pela última vez na sua vida. Essa passagem por dentro desses limites de paredes e tecto não ficou registada na memória de ninguém, ou perdeu-se passado algumas gerações... ou, e seria tão bonito acreditarmos nisso, a memória dessa última passagem desse homem por baixo desta porta continua presente nos nossos dias. Talvez se tenha preservado o seu nome, a sua idade, a causa da morte, se a última passagem pela porta foi de fora para dentro de casa ou de dentro para fora, se o homem reparou na porta, enfim... muitas perguntas podem ter uma resposta. É possível que alguém saiba. Os descendentes dos descendentes dos bisnetos desse homem.

Ou então toda esta vã esperança é logo morta à partida com o facto possível de ser descoberto de que nunca passou um homem por essa porta, visto que dava acesso a uma residência só de mulheres. E, sendo assim, a esperança de encontrarmos no mundo uma resposta às tais perguntas se desvanece no ar, como água que passa a vapor e se dissipa... porque simplesmente não existem dúvidas, nem questões, nem nada.

domingo, 21 de junho de 2009

Os Futurologistas da Ficção

[Ponte 25 de Abril em Lisboa, dia 15 de Junho de 2009 - eu sei que não tem nada a ver com o conteúdo do post, mas... sempre podemos tentar estabelecer uma qualquer comparação. já voz digo uma possível no fim do post.]

Enquanto leio «Mil Novecentos e Oitenta e Quatro», do genial George Orwell, não deixo de pensar nesse tipo de "profetas escritores" que cresceram bastante durante o século XX. Este tipo de futurologia na ficção, na qual nasceram os robots e as viagens à lua (que se vieram de facto a confirmar), mas também o apocalipse e a ausência dos sentimentos nos humanos... bem, a verdade é que estamos cada vez mais próximos desta última do que seria de esperar, mas pronto. Consideremos que ainda somos donos das nossas emoções.

Neste livro que já referi, entre muitas outras coisas da sociedade que o autor previu que estaria em vigor em 1984 (ele escreveu por volta de 1950), uma delas é a presença de câmeras de vigilância em tudo o quanto é sitio, sempre a vigiarem os nossos movimentos, tudo o que falamos é registado, para onde quer que vamos somos vistos de perto, como se as autoridades fossem uma sombra. Bem... isto acontece nos nossos dias, embora em menor escala. A verdade é que já temos demasiadas cãmeras a registarem tudo, o que nos pode parecer bom (porque nos habituámos e só vemos os lados positivos) mas que nos tira um pouco de liberdade, diga-se de passagem.

Há uns anos havia na televisão o tal concurso muito falado do Big Brother (concurso esse que derivou do conceito criado pelo próprio George Orwell no seu livro). Nesse programa, uma série de 12 concorrentes estavam fechados numa casa a serem sempre vigiados. Bem, acho que o Big Brother se alargou à sociedade em geral por todo o lado. Veja-se, por exemplo, o Google Earth. É um primeiro passo. Ou, ainda mais assustador, a vista de rua que o Google Maps oferece. Em Portugal ainda não está disponível, mas se nos mapas procurarem Paris e se aproximarem, deslocam o bonequinho cor de laranja para um ponto do mapa e vêm tudo a 360º à vossa volta, incluindo as pessoas que lá passavam naquele momento, de 50 em 50 metros. É assustador. Vejam por vocês mesmos carregando aqui (mas primeiro acabem de ler isto até ao fim).

Futurologistas da ficção - é claro que se baseiam em tendências da época para escreverem os seus romances e ensaios, por vezes elevando a suposta realidade a um expoente máximo, de forma a chocar mais. Mas a verdade é que muitos têm acertado... agora, cá ficamos à espera da verdadeira guerra das estrelas. E, já agora, do apocalipse - já não deve faltar muito. Até lá, podemos contentarmo-nos com os robots e as câmeras de vigilância.

[quanto ao resto da legenda prometida no início da... legenda... sempre podemos imaginar que coloquei aquela imagem porque a ponte também pode ter feito parte da futurologista de ficção que viveu algures no século XIII. isso nunca se sabe. mas sintam-se à vontade para estabelecerem ligações entre a ponte 25 de abril e o tema do post...]

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Hoje está mais fresco

UPDATE (7 da tarde): Esqueçam; afinal a partir da hora de almoço que isto está igual aos outros dias... calor insuportável.

Ok, isto é o seguinte: apetece-me escrever aqui mas não sei o que escrever. Pronto, sou sincero, já é um ponto positivo. Se me apetece escrever que escreva, não é? Visto que não é obrigatório ninguém ler isto. Nem obrigatório nem aconselhável. Como podem ver, é até um pouco insano.

Podia falar acerca do tempo. Hoje está mais fresquinho, por exemplo. Talvez se deva ao céu nublado, mas sinto que não é só a isso. Provavelmente é devido a uma frente fria que está a passar pelo nosso território... aprendi isto em Geografia A há pouco mais de um mês e meio, e já me esqueci. Ou, melhor dizendo, o que aconteceu foi que não apreendi totalmente.

Ora, ao não apreender, não percebo hoje o porquê de estar mais fresco. Pode ser um clima contra-a-lógica, devido ao aquecimento global, ou assim. Pode ser simplesmente uma partida do fim da Primavera (ouvi dizer que o fim da primavera é muito brincalhão - estou a brincar). Ou então... ou então pode não ser nada, e não está mais fresco, sequer! Talvez seja só eu a imaginar, e a desenvolver um tema que, apesar de tudo, tem sempre pano para mangas (as das camisolas, não as de comer - ou será ao contrário?).

Enfim. Não levem isto muito a sério. As férias têm destas coisas, pelo menos comigo. Fico ansioso à espera delas, mas quando finalmente chegam já não as quero, porque sinto que muitos tempos são vazios, ou mal aproveitados. São boas por um lado, sim. Mas não por o outro.

Pequena Anotação: Só no fim é que reparei, mas um post sobre o tempo metereológico (como este) também liga muito bem com o título deste blog. Curiosamente.

Segunda Pequena Anotação: Como podem conferir pela imagem, que retrata este exacto momento aqui na minha zona habitacional, o tempo está mesmo mais fresquinho. Engraçado como uma fotografia consegue transmitir sensações térmicas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O tempo passa.

[Coimbra à noite no dia 13 de Junho de 2009 - lindíssima]

O sol nasce a cada dia, a cada noite os candeeiros de rua se acendem, os edifícios permanecem no mesmo local, e sempre que uma luz incide sobre algo nasce uma sombra. Mas o tempo passa.

Cumprimentam-nos sempre dizendo "Bom-dia!", e despedem-se de nós com um "Até logo!", cantam-nos os parabéns quando fazemos anos e riem-se da mesma forma todas as vezes que contamos algo engraçado. Mas o tempo passa.

Julgamos conhecer de cor a nossa terra, julgamos conhecer de cor a nossa casa, sentimos depressões porque os dias são sempre iguais, vamos ao médico e tomamos drogas porque os dias são sempre iguais. Mas o tempo passa.

Adoecemos e curamo-nos, uns nascem e outros morrem, vivemos longe da família ou vivemos perto, fazemos escolhas que receamos determinarem o nosso futuro. Mas o tempo passa.

Sim, o tempo passa. E a prova está nesta sucessão de dias e noites, nesta rotina imaginária que imaginamos ter, neste conhecimento modificado a cada minuto, neste mundo de constantes mudanças, nestas coisas da vida e da morte, nas alegrias e nas tristezas que se sucedem. Sim, o tempo passa.

O tempo passa.
 

Crónicas do Tempo que Passa © 2008. Chaotic Soul :: Converted by Randomness