segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Graças a Murakami, hoje corri.


[Pormenor da capa do livro do Murakami - foto tirada por mim.]

Existem alguns livros que provocam em mim uma sensação de tristeza e alegria enquanto os leio: é que vou pensando de vez em quando no momento em que os acabar, em que chegar ao fim das páginas e não tiver mais conteúdo para ser lido. Há livros que provocam isto em mim. E o «Auto-Retrato do Escritor enquanto Corredor de Fundo», de Haruki Murakami, está a ser um desses livros. Por um lado é bom, porque significa que está a ser um daqueles livros que me toca de tal maneira que receio a hora em que acabar. Por outro é mau, porque odeio não me concentrar totalmente no presente, e ir pensando no momento futuro em que não vou gostar de terminar a obra.

Existem algumas coisas diferentes nesta obra de Murakami que diferem dos seus livros que li anteriormente: não é um romance, mas sim um... ensaio autobiográfico (?), que se centra no facto de o autor ser um corredor de fundo (de resistência, longas distâncias), mas não se limita a isso; percorre uma infinidade de temas, reflexões, comparações e outros planos paralelos da sua vida. E sendo este senhor japonês o meu autor preferido desde Março, altura em que terminei de ler o seu segundo romance, este livro é como um manual de inspiração para mim. Ele explica a sua rotina, explica os seus pensamentos, abre a sua alma aos leitores. Nada melhor.

De manhã li o primeiro capítulo - 20 páginas. Foi o suficiente para tomar uma decisão: hoje, começo a correr. Sim. Quando sair da escola às seis e meia, passo por casa para deixar a mala, lanchar e vestir umas calças de fato-de-treino; depois vou para a marginal da baía, aqueço cinco minutos, e corro 1700 metros para lá, e mais 1700 para cá. Quando voltar a este sítio terei 3400 feitos. Sem parar. Seria um record, visto que nunca tinha feito tal distância. levava também um cronómetro, como referência, mas quando é a primeira vez não faço contra-relógio.

Comecei a correr eram aproximadamente 19:20, pouco menos. Já era noite. As estrelas brilhavam, a lua estava em quarto crescente. O primeiro quilómetro foi fácil. A partir daí as coisas mudaram. Quando cheguei ao fim do local onde tinha obrigado a mim próprio chegar, aos 1700, e dei meia-volta para fazer a viagem de volta, observei o cronómetro e observei 9 minutos e quinze segundos. Uau, pensei. Estava a correr três metros por segundo (embora estas contas só as tenha feito quando cheguei a casa). A viagem de volta foi muito penosa. Pensei em desistir por diversos momentos, mas fazia empre mais um esforço. Os últimos quinhentos metros... os últimos duzentos... foram tão penosos. Tinha quase vontade de vomitar. Mas continuei. E consegui. Ergui os braços,a respiração acelerda, o coração a bater desenfreado (mesmo). Mais um bocadinho e teria caído para o lado. A diferença é que consegui cumprir o objectivo a que me propuz. Bati aquilo que alguma vez poderei ter feito. E da próxima vez, pela ordem lógica das coisas, vai ser mais fácil.

Onde fui buscar toda esta inspiração? Ao livro de Haruki Murakami, claro. Chegado a casa, depois de acalmar um pouco, peguei na obra e li mais um capítulo - trinta páginas. Devorei-as, senti-me ali retratado. Tenho a agradecer a este autor, porque tem espandido, literária e agora fisicamente, um pouco os horizontes da minha vida. Correr nunca mais vai ser a mesma coisa.

1 comentários:

Kepa disse...

óptimo bónus que retiras da leitura desse livro. Continua. Não sei o que mais leste dele mas aconselho vivamente "Crónica do pássaro de corda", "em busca do carneiro selvagem" e "dança, dança, dança" ("dança,dança,dança" é uma continuação do percurso da personagem principal do "carneiro selvagem" por isso lê este primeiro se assim o entenderes ;)...acredita que quando leres os que te disse vais amar mais o murakami ou não lol... boas leituras!

 

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