quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sabem o que dá mesmo cabo de mim?

Vamos lá a ver se consigo chegar ao ponto que quero. As férias deixam-me um bocadinho em baixo. Se calhar é porque não sou pessoa de se ligar e desligar, e sim de manter sempre ligado. Ou desligado, conforme a prespectiva. É que, durante as aulas, existe um sistema. Um sistema mais ou menos equilibrado, em que me levanto, vou aprender coisas, almoço, aprendo mais coisas, venho para casa, descarregar de toda a aprendizagem (embora esta permaneça, figurativa, no interior da mente), janto, tenho uma ou duas missões a cumprir, deito-me. Cinco dias por semana. Os outros dois também quase não paro. Esse não parar ajuda-me. Porquê? Essa é que é uma questão que não consigo responder. Ponderei um pouco acerca dela no Lydo e Opinado há uns dias, mas não cheguei a nenhuma conclusão.

É que nas Férias levanto-me, fico a olhar para o dia, e embora tenha coisas que, lá no fundo, queira fazer, não me aparece vontade nenhuma. E, pior do que isso, disperso-me. Preciso de estar com mais gente, preciso de sair de casa, e faço-o pouco. Aqui em casa sou uma fera a andar às voltas na jaula, enervando-se, enchendo-se, e no fim descarrego em mim próprio. Como um ciclo vicioso de loucura. Podia sair, é verdade, podia andar até ao pôr-do-sol pela marginal, ouvindo a água. Mas chegava ao fim e pensava na mesma queo dia não tinha sido produtivo. Isso levanta nova questão: que tenho de fazer para achar o meu dia produtivo? Algumas coisas. Tenho de pelo menos umas vinte e cinco páginas. Tenho de escrever na Paris, 500 palavras que sejam. Tenho de compôr uma música. Ora ler, ainda se arranja. Escrever, tem dias. Compôr, é muito raro.

Faço o esforço de sair do computador, e logo me vejo nos braços de outro problema: e agora? Pego no livro. Não tenho vontade. Não tenho vontade de nada. Nem de voltar para a secretária onde estava. E agora? Quando me dá este pensamento, é quando caio na profundidade do abismo que para mim são as férias, principalmente aquelas em que estou em casa. Se fosse para a Costa, aí seria diferente. Mas a Costa só é boa no Verão. Em Agosto, ó lá estou em Agosto. Julho todo vai ser passado aqui em casa, e aqui em casa não consigo passar Julho todo. Embora ainda esteja longe. Hoje ainda é quarta-feira, ainda é Abril.

Apetece-me ser uma estrela do rock, neste preciso momento. Apetece-me ser maior do que sou, só neste momento. Agora já não. Agora já não quero tal coisa. Agora quero é estar em Nova Iorque, cercado por arranha-céus, com a esperança de, em algum dos andares, alguém esteja a olhar para mim. Agor ajá não. Agora apetece-me estar no Japão, lado a lado com uma rapariga oriental dos seus vinte anos, ensinando-lhe a falar português. Estranho, não é? Já não me apetece. Já não me apetece nada outra vez.

Já sei. Apetece-me que as férias acabem. Rápido. Dão cabo de mim.

Por isso por favor não me digam coisas como pobre e mal agradecido, aproveita enquanto és estudante, porque essa é a opinião de quem diz. OK, eu daqui a vinte anos posso estar também a dizer isso a um rapaz de dezasseis anos, «aproveita enquanto estás de férias porque» mas isso é daqui a vinte anos, e não agora. No fundo, isto é tudo um ciclo, em que vivemos, e só depois pensamos. E por mais que nos advirtam, não conseguimos pensar antes de viver. Só vou conseguir dar valor as férias quando já não as tiver. É impossível acontecer de outra forma.
 

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